segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Tarde branca

Essa luz há de cegar-me.

Ouço vozes várias na viola.

Céu de laranja-lima onde me cubro
e e curtos passos me integro.

Lá fora, o bufar puf-puf mecânico do mundo.
Aqui dentro, explosão.

Imagens espelhadas nas esquinas do meu quarto
cor caramél bleu chiqué passé passou.

O relógio cansou de correr,
cai como coloridos pingos de chuva

lágrimas de sal

o nome dito em vão

a corda arrebentada

e eu, pregado a paredes e retratos.

Vida de cão

Bate a noite crepuscular no vidro
não fosse tão azul o reflexo
de minh’alma coaxando no mato
terreno de pedra mole e sangue
cai a luz pelos olhos corre solta
micropartículas do amor cosido
na íris ardente te ouço
perspectivamente sempre agudo
a agulha que espeta não espinha
nada que diga vou dizer-lhe
aonde nasci nunca tive regras
gramaticais que impedissem todas
minhas aventuras verborrágicas
no país do lápis e penas
requebro em sintonia roxa
o veneno estéril de minha idade.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Carta destinada a si

Por que é que alguém vira um poeta? Ontem
ainda saí andando pelas poças da calçada
e me assustei com o reflexo disforme que
produzi. Para fora da janela sempre aquela
imensidão: ardência no peito. Como é fácil
ser humorista, sempre penso! Fácil mesmo
é sumir... Esse som de jato voando
vai me enlouquecer; tenho uma invenção
na ponta da língua, mas abri a boca e
ela caiu. E quando acabarem as coisas
que se pode(m) inventar: eis a era da
desinvenção? Por que alguém escreve
poesia? O caminhão passou com seu
pó negro engesando o ar da manhã
tão tão laranja... Queria botar os
pingos nos is mas todos que escrevo
são maiúsculos. Afinal, quem inventou
essa bobagem de "parágrafo" que se dane.
Até onde sei estou livre em minha mente. Ainda...
Por que alguém faz versos?

As maneiras

Como inseto sou
como um inseto e
como inseto o tempo todo
serei melhor e como
inseto que voa

Voa! Que lá fora o vento
dança de uma forma forma aliança
com o mundo reduzido ao prego
entortado, ao pão-dos-pobres, ao
cego e descartado desejo

Desejo! Uma vida mais
incerta em certa incerteza
mas que devolva à natureza
da certeza do outono que chega

Chega! O final já foi contado
há tempo e a tempo de salvar-me
digo há tempo antes do amanhã

Amanhã! Que chega hoje o jeito
de dar-me com o espelho:

como vejo? Como inseto.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Três Figuras

Três figuras me observam
dormindo, Durmo.

Pálidas, andam pelas paredes,
agarram-se ao teto,
sobem em meu travesseiro
invadem meu sonho.
Lá as encontro,
verdazumarelho toque
sem cor. De emoção
me alimentam, me entopem

me estrangulam

uma: xadrez e adorável
dua: verde e verdadeira
trê: cristal-cômica
até que

até

até

ACORDEI.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Blog numa hora dessas??

Pois é!

Posso afirmar - sem querer fazer muito mimimi mas já fazendo - que nunca tive tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo e agora. Tudo muito, tudo demais, tudo pra ontem. Mas então pra quê criar um blog?

Mais um blog, aliás?

Bem... a verdade é que não sei.

Afinal, o que leva as pessoas a criarem um blog? Muitos diriam que eles nascem daquela veeelha vontade dos "escritores" de expor ao mundo seus ideais ou externizar o seu interior conturbado, frases que nada mais são do que eufemismos para a veeelha vontade de ser notado por alguém, de demonstar a existência do blogueiro para o mundo (e especialmente, para as pessoas).

Alguns blogs pertencem a pessoas altamente literatas que postam suas expressões artísticas através de poemas, contos, crônicas, falas, e whatevers em geral (note to self: does it ring a bell?). Ok, por mais que nosso jovem blogueiro se considere uma espécie de gênio que irá revolucionar a esfera literária, e pense que seu conto sem qualquer sentido aparente é o melhor texto já produzido since Memórias Póstumas, um blog sempre é digno. E sempre vale a pena dar uma chance ao campeão do outro lado do monitor, que deveria se esforçar se esforça para escrever alguma coisa, alguma escritura. Já é melhor do que nada.

Sem dúvida, há uma certa relação entre criar/manter um blog e dor-de-cotovelo, sem dúvida, hmm... É aquele caso clássico da pessoa que tenta insistentemente provar ao mundo todo que não precisa nem um pouco dele, uma baita de uma contradição (se você não percebeu, releia a frase). E, novamente, é aquele caso clássico do desespero por ser notado, de provar seu valor perante os outros. Alguns preferem demonstrar esse valor através da valorização da beleza, outros preferem aprender a tocar violão. Outros escrevem blogs. Tudo bem, essa necessidade de se "exibir" é até (quaaase) compreensível, e cada um na sua, sem julgamentos, afinal aqui tudo é permitido. Oba!

E sempre chega o momento derradeiro do abandono do blog. Começa com uma demora um pouco maior entre postagens, vai pra preguiça de postar e, quando o astuto blogueiro se dá conta, seu pobre blog já foi parar nos confins da Internet. Motivos? Vejamos: acabou a inspiração? Mudou o ritmo de vida? Ficou sem saco? Reformulou os valores morais? Acabou com a dor-de-cotovelo? Pode ser, pode ser. O que é certo é que todo blog é criado, cresce um tanto e depois acaba. Faz parte. Tá nas regras do jogo.

Então, pra quê se dar ao trabalho de criar um blog? Bem, acontece que às vezes faz bem. Às vezes pode ser divertido. Às vezes pode ser estranho. Bem... acontece que um blog não é pra ser levado a sério; é só um blog, caramba.

Por isso, recomendo a todos: façam um blog, um blog bom, um blog agora. 
=)


*e pra quem não sabia, existe um seleto (eufemismo para "não muitos", que por sua vez é eufemismo para "poucos") grupo de pessoas que acompanhavam meu outro blog. Não deixe de conferi-lo clicando aqui.